domingo, 5 de abril de 2009

"Palestinos são a elite na Jordânia"

Maioria enriqueceu como empresários do setor privado no único país árabe que deu cidadania aos refugiados

Gustavo Chacra


Em Israel, algumas correntes políticas afirmam que a verdadeira pátria palestina é a Jordânia. O argumento é o de que há quase tantos palestinos quanto jordanianos no país. Até mesmo a rainha Rania é palestina. Esses israelenses têm razão, em parte. Há de fato uma grande quantidade de palestinos na Jordânia, mas a maior parte deles chegou a partir de 1948 e, especialmente, após 1967, como refugiados das guerras árabe-israelenses. São originalmente de cidades onde hoje é Israel, Cisjordânia e Faixa de Gaza.

Como a Jordânia ofereceu cidadania, hoje esses palestinos são também jordanianos. Podem trabalhar, votar e têm todos os direitos dos jordanianos nativos. Um cenário que contrasta com a situação no Líbano, onde os palestinos são confinados em campos de refugiados, sem cidadania e proibidos de exercer uma série de profissões.

Em Amã, diferentemente de Beirute, os palestinos compõem a elite. Enquanto os jordanianos nativos rumaram para empregos públicos, os palestinos dominaram a iniciativa privada, onde conseguiram enriquecer.

Com bons apartamentos, salários elevados e vivendo no que é provavelmente o país mais pacífico da região, eles teriam tudo para se sentir em casa.

Em qualquer rua da capital jordaniana, porém, quando indagados sobre qual seria sua nacionalidade, eles respondem: "Palestinos". Ainda que sejam nascidos em Amã, dirão que são de Nablus, Jenin ou Belém.

Dos palestinos e descendentes que vivem na Jordânia, há dois grupos. Primeiro, os que deixaram ou foram expulsos de suas terras em 1948 e não podem retornar - a não ser que consigam um visto de Israel.

Como israelenses e jordanianos mantêm relações diplomáticas, teoricamente, cidadãos da Jordânia podem visitar Israel com um visto. No início dos anos 90, depois da assinatura da paz entre Yitzhak Rabin e o rei Hussein, muitos conseguiram.

O problema é que, como parte deles não deixou mais Israel ou os territórios palestinos, os israelenses passaram a ser mais rigorosos.

"Acho humilhante ter de pedir um visto para a minha própria pátria, sendo que, na verdade, é quase certo que não receberei", disse ao Estado o palestino Abu Shakra.

O segundo grupo são os palestinos que deixaram o território em 1967, que podem visitar a Cisjordânia desde que tenham identidade palestina. Eles devem cruzar a fronteira pela ponte Allenby. O processo é demorado e muitos dizem que são humilhados.

Os palestinos entrevistados pelo Estado reclamaram da maneira como são tratados pelos israelenses. Israel defende-se e afirma que interrogatórios e inspeções são necessárias por questões de segurança.

Existem 2,7 milhões de palestinos e descendentes na Jordânia, dos quais 1,9 milhão são descritos como refugiados, segundo a ONU. É a maior quantidade de refugiados palestinos em todo o mundo, cerca de cinco vezes mais do que no Líbano, que vem em segundo lugar.

Eles não vivem tão longe da terra onde nasceram. Amã está a uma hora da fronteira. Se dirigirem em direção ao sul, durante todo o trajeto observam os territórios palestinos e Israel do outro lado.

A Jordânia, assim como Israel, Cisjordânia e Faixa de Gaza, era parte do Império Otomano até o fim da 1ª Guerra. O território passou para as mãos dos britânicos, que estabeleceram ali uma monarquia aliada: os hashemitas. Sem grandes cidades, a maior parte do território era habitada por beduínos, bem diferente das cidades palestinas, estabelecidas há séculos.

Fonte: Estadão.com.br (05/04/2009).

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