sábado, 30 de maio de 2009

Combates na Somália provocam superlotação do campo de refugiados

O campo de refugiados de Dadaab, no Quênia, onde vivem 270 mil refugiados somalis, é o maior do mundo e criado há 18 anos como medida de carácter temporária, encontra-se já superlotado e sem condições de atender a todos, mas continua a receber milhares de refugiados adicionais devido aos novos combates na Somália

Segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (UNHCR), o campo de refugiados de Dadaab é o maior do mundo e fica no nordeste do Quênia, a cerca de 100 quilómetros da fronteira somali.

Em 1991, Dadaab foi criado para acomodar 90 mil refugiados. Actualmente cerca de 270 mil somalis vivem ali, divididos em três campos. São pessoas que fugiram da guerra e dos problemas no seu país e que agora se encontram num limbo, esperando continuar a sua jornada para algum outro lugar.

Milhares de refugiados chegam a cada semana ao campo. E quando os combates irrompem na capital, Mogadício, ou em outros locais da Somália, conforme ocorreu nesta semana, o fluxo de refugiados para Dadaab pode facilmente dobrar.

Basicamente, Dadaab não é mais um campo de refugiados, mas sim uma cidade. Uma cidade que tem tudo, menos produção industrial. Nela há oficinas mecânicas de automóveis e carpinteiros, centros de saúde e bazares, vendedores de materiais de construção e bordéis.

Os mercados de Dadaab contam com um bom suprimento de produtos como frutas e milho, aparelhos de DVD e os mais recentes modelos de telefones celulares. Segundo estudos, a economia mensal de Dadaab movimenta o equivalente a algo entre 2 milhões dólares à 3 milhões de dólares (1,5 milhão de euros e 2,2 milhões de euros ), e possivelmente mais.

O campo é sustentado pela ajuda estrangeira. As grandes organizações das Nações Unidas, e praticamente todas as organizações internacionais importantes de auxílio humanitário, como a Cruz Vermelha e o Crescente Vermelho, a CARE e a USAID, a Oxfam e a World Vision, estão presentes em Dadaab. Essas organizações são há muito tempo os empregadores mais importantes no campo de refugiados.

Mas agora o campo está a atingir o seu limite, e centenas de refugiados estão acampados ao ar livre e milhares em tendas. Novas áreas não são aprovadas, e qualquer nova choupana construída fora dos limites do campo é imediatamente demolida.

"Se tivéssemos uma interrupção apenas parcial de fornecimento de água, os surtos resultantes da cólera e outras doenças infecciosas resultariam num desastre humanitário", afirma Yves Horent, director da agência de assistência técnica ECHO, da União Europeia, no Quénia.

Markus Dielinger, director da GTZ, a organização alemã de ajuda técnica, em Dadaab, também está preocupado com a possibilidade de que as condições se possam deteriorar. "Tão logo os combates aumentam de intensidade na Somália, nós recebemos imediatamente centenas de refugiados adicionais. E, agora, devido à estação das chuvas, há um risco elevado de malária".

Deko, uma mulher somali de 20 anos que fugiu de Mogadício, é uma das pessoas que chegaram recentemente. "Havia combate por toda parte em volta da minha casa", conta ela. "Quando teve início o fogo pesado de metralhadoras, decidimos partir". Na confusão da fuga, ela perdeu-se dos pais e irmãos, e decidiu seguir por conta própria para a fronteira somali-queniana.

Após uma semana caminhando e viajando em veículos pelas estradas, Deko chegou a Dadaab. "Estou feliz por me encontrar em um lugar seguro", afirma a refugiada. "Mas não ficarei aqui por muito tempo, porque desejo encontrar a minha família".

Isso poderá ser difícil, especialmente devido às dificuldades que os refugiados somalis enfrentam quando se dirigem a Dadaab, conforme está descrito em um relatório divulgado há algumas semanas pela organização Human Rights Watch.

Segundo o relatório, traficantes de seres humanos transportam a maioria dos refugiados através da fronteira, que se encontra encerrada desde 2007. A polícia queniana detém rotineiramente veículos com refugiados na estrada para Dadaab.
Os homens são retirados dos veículos, e as mulheres e crianças só têm permissão para continuar se os policiais receberem propinas substanciais.

Mas há também bastante crueldade nos próprios campos. Nos sete postos policiais do campo, as mulheres correm o risco de serem estupradas. E, caso se recusem a pagar mais propinas, elas podem ser espancadas, expulsas e mandadas de volta à Somália.

Os refugiados que desejam continuar a jornada em direcção a Nairóbi têm que comprar uma passagem que já inclui propinas para a polícia. A ponte sobre o Rio Tana perto de Garissa é especialmente conhecida.

Todo veículo que se dirige para Nairóbi tem que cruzar a ponte, onde a polícia queniana montou uma barreira permanente. O posto de polícia fica convenientemente próximo à barreira policial - e ele é uma mina de ouro para os policiais, que normalmente exigem o equivalente a 50 dólares para cada refugiado somali. Quem não for capaz de pagar é preso ou obrigado a dar meia volta.

O campo constitui-se num problema enorme para o Quênia. Está superlotado, e o UNHCR, na tentativa de enviar os somalis para outro lugar, não consegue absorver os novos refugiados.

O cálculo é bem simples. Mesmo se o UNHCR conseguisse abrigar 8.600 refugiados este ano, o campo continuaria a crescer rapidamente. As cidades vizinhas estão a começar a soar o alarme. Os moradores destas cidades estão furiosos porque os campos recebem remessas de alimentos e contam com dezenas de centros de saúde, e também com o facto de tantos poços de água serem perfurados nos campos.

Além disso, a criminalidade está em alta, e os somalis cortaram toda a vegetação num amplo perímetro a volta do campo, com o objectivo de usar madeira e arbustos para cozinhar.

Nem mesmo os refugiados que deixaram o campo ou conseguiram evitá-lo são bem recebidos pelos quenianos. A maioria deles continua em Nairóbi, onde o bairro somali de Eastleigh tornou-se um dos distritos de crescimento mais rápido da cidade.

E como os somalis são extremamente empreendedores, actuando em todos os setores, desde o comércio até o mercado imobiliário, os quenianos sentem cada vez mais inveja desses recém-chegados que exibem grande capacidade de adaptação.

Para aliviar o problema, o governo em Nairóbi gostaria de construir um novo campo para refugiados somalis a 1.500 quilômetros de distância, em Kakuma, perto da fronteira sudanesa. Refugiados do Sudão já se encontram acampados na área, e os quenianos gostariam de mandar para lá 50 mil moradores de Dadaab, além de enviar todos os recém-chegados diretamente para Kakuma.
Mas os desafios logísticos são enormes, o que poderia acabar inviabilizando o projecto.

Num apelo urgente feito alguns dias , os 14 maiores doadores de Dadaab, incluindo os Estados Unidos, o Japão, o Reino Unido e a Alemanha, criticaram duramente os planos do governo. Citando iniciativas para "intervenção urgente", eles defenderam a construção de um quarto novo campo em Dadaab.

"Estamos alarmados com o rápido declínio do padrão de vida e a dificuldade cada vez maior de acesso aos serviços básicos, como água, instalações sanitárias e abrigos", diz o documento dos 14 países.

"As chuvas actuais estão a fazer com que a agência de refugiados das Nações Unidas não consiga dar conta do problema, e poderão gerar epidemias, a destruição de construções e a perda inaceitável de vidas humanas". Há uma "necessidade urgente" de ajuda.

Os países que fazem o apelo querem que o governo do Quénia disponibilize 2.000 hectares de terras que já foram aprovadas pelos governadores do distrito. Segundo a carta dos doadores, a superpopulação nos campos existentes poderia provocar um surto de cólera e tensões crescentes entre os refugiados e os moradores das pequenas cidades ao redor .

O embaixador alemão Walter Lindner assinou o apelo porque "algo precisa acontecer". Mas outros que assinaram o documento advertem: "Não podemos sobrecarregar os quenianos".

As lutas voltaram a irromper na Somália, o governo do Quênia está perplexo e os doadores estão a tentar assumir o controlo sobre uma sombria situação política na qual são investidos milhões de dólares em doações.

Enquanto isso, o refugiado Hajir continua esperando. "Eu nunca pensei que ficaria aqui por tanto tempo", afirma ele. "Estou muito desapontado com o meu país. Não há esperança de retornar. Na verdade, a minha única chance é ir para um outro país, como o Canadá ou os Estados Unidos'.

Muitos em Dadaab têm esperanças similares.

Fonte: Angola Press

Um comentário:

Unknown disse...

Oii,
Sou estudante de psicologia, gostaria de entrar em contato com o grupo para saber mais detalhes sobre o trabalho voluntário. Através de qual e-mail posso fazer isso?
Meu e-mail é licinhaumpierre@msn.com