quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Rebeldes no Congo impedem população civil de fugir, diz jornal


O grupo rebelde liderado por Laurent Nkunda na República Democrática do Congo acampa nos acessos da capital da Província de Kivu do Norte, Goma, segundo o enviado especial do jornal francês "Le Monde", Jean-Philippe Rémy, ao país da África central. Cerca de um milhão de pessoas fugiu devido à onda de violência.

A vigilância dos rebeldes impede novos deslocamentos na região. "Nós somos aqui como escravos. Os soldados recusam a nos deixar passar para chegar a Goma", afirmou um homem, não identificado, ao jornalista.

"Eu fugi na segunda-feira, e retornei para recuperar coisas da casa. Minha mulher, meus filhos, estão próximos de Goma e não posso retornar lá", afirmou um outro entrevistado, também de Kitumba ao francês.

A razão de impedir novos deslocamentos não é esclarecida pelos soldados do grupo rebelde, que dizem apenas cumprir instruções de seus superiores.

Volta

Rémy não relata ações mais drásticas dos homens de Nkunda, mas atualmente muitos dos deslocados tentam voltar para sua região de origem, segundo confirma nota da Associated Press.

A busca por comida é uma das razões que impelem os refugiados desejam voltar. O frio, segundo Rémy, é um dos problemas para a população deslocada. "As noites são glaciais. Logo que o dia se vai, fogueiras são acesas", afirma o enviado francês.

"Nós não comemos nada há três dias", disse Rhema Harerimana à Associated Press nesta sexta-feira, que fugiu com um bebê de colo e outra criança pequena.

Ela afirmou que estava fora de casa há cinco dias, mas que ia voltar a sua casa em Kibumba, que está há cerca de 28 km de Goma.

Conflito

Devido a ações do grupo nas montanhas, os habitantes de lá desceram em massa para os arredores de Goma para fugir da violência. Um cotidiano que se repete na vida dos moradores da região, mas que gerou temores de a crise de violência possa se agravar.

Cerca de um milhão de pessoas foram deslocadas da Província de Kivu do Norte, na fronteira com Ruanda, em cerca de dois anos de violência que persistiu após o fim da guerra de 1998 que durou até 2003 na antiga ex-colônia belga.

O conflito no Congo é abastecido pelas tensões étnicas que se seguiram ao genocídio de Ruanda em 1994 e as diversas guerras civis congolesas. O líder rebelde Laurent Nkunda clama que o governo não protege a etnia Tutsi das milícias Hutu que se refugiaram no Congo.

Esforços diplomáticos

O ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, David Miliband, e o da França, Bernard Kouchner, chegaram neste sábado a Kinshasa, onde devem se reunir com o presidente da República Democrática do Congo, Joseph Kabila.

Ambos devem pressionar os líderes congoleses e ruandeses para a seriedade da situação no leste da República Democrática do Congo e para a necessidade do engajamento urgente para encontrar uma situação para o problema, afirmou uma fonte diplomática britânica à Associated Press.

Após a reunião com Kabila, os ministros seguem para Goma, a capital de Kivu do Norte, e a Kigali, em Ruanda, para falar sobre a situação de segurança no leste congolês com o presidente da Ruanda, Paul Kagame.

Os ministros visitam a África central após as missões do comissário europeu para a Ajuda Humanitária, Louis Michel, e de Jendayi Frazer, subsecretária norte-americana para Assuntos Africanos.

Último Recurso

O encarregado das Relações Exteriores do Reino Unido para África, Ásia e a ONU, Mark Malloch-Brown, em entrevista à Rádio BBC neste sábado, que a União Européia pode enviar tropas à região como último recurso, informou a Reuters.

Malloch-Brown disse que a UE não iria apenas "assistir a erupção da violência", em suas palavras.

"Nós certamente temos de ter isto como uma opção se nós precisarmos. Mas francamente, a a primeira ação deve ser o remanejamento das próprias forças da ONU de outros locais no país", disse Malloch-Brown.

"Eles devem chegar lá muito mais rápido. Eles já estão equipados e familiarizados com a situação e tem o apoio logístico", afirmou ainda o ministro britânico.

"Nós estamos fazendo o plano de contingência se isto se tornar necessário, mas não é nossa prioridade neste momento. A prioridade é conseguir uma solução política", disse Malloch-Brown.


Fonte: Folha Online

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